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Felizes para sempre


Cerca de sete anos ja haviam se passado desde o fim do nosso relacionamento. Eu segui minha vida e acabei me casando com outra pessoa. Infelizmente um trágico acidente de automóvel me deixou viúvo a três anos. No começo tudo foi difícil. Mas acho que ja tinha superado tudo. Havia aceitado que felicidade era algo que não existiria pra mim. Não ao lado de uma mulher. Eu estava aceitando que meu destino era ser sozinho. Apenas viver para meus amigos. Eu teria um filho, mas ele morreu com a mãe no acidente quando ainda estava na barriga dela. Ele tinha apenas 4 meses. Eu caminhava em direção a praia quando vi uma garotinha sentada a beira do mar. Aparentava ter uns seis anos. Tinha cabelos levemente cacheados e com tons castanho-claros. Sua pele era branca e ela tinha algumas poucas sardas na bochecha. Me aproximei. Senti uma preocupação ao ver aquela criança ali sozinha na beira do mar. Era inverno e apesar de não ventar muito, estava bastante frio e o tempo estava nublado. Quando sentei-me ao seu lado, pude notar que ela estava de olhinhos fechados. Parecia estar orando. Isso era uma coisa que eu não fazia havia tempos. Sentei-me ao lado dela e perguntei.

-Gatinha, o que esta fazendo aqui sozinha?! Qual seu nome?!

Ela me respondeu sem abrir os olhos. Parecia que eu estava lhe atrapalhando bastante.

-É Sophia. Espera um instante por favor que eu to conversando com Papai do céu.

Eu concordei e sorri. Então fechei meus olhos para acompanha-la. Ao fazer isso, lembrei dos momentos em que planejei ter um filho com ela. Se fosse menina, seria Sophia. Se fosse menino, seria Pedro. Aquele momento me fez voltar oito anos no tempo. Até o dia em que a conheci. Foi ali naquela mesma praia onde eu estava. Foi ali também que nossa história havia terminado de vez. Pensei em como ela estaria naquele momento. Se estaria casada... - Provavelmente estaria. - Pensei eu. Então resolvi conversar com aquele velho amigo que eu deixei de procurar fazia tempos. Eu não sabia se Ele iria me ouvir, ou se quer se Ele realmente existia. Então eu apenas pedi para que ela estivesse bem. E que Ele jamais a abandonasse. Não queria ganhar nada dele mais. Então enquanto ainda estava de olhos fechados, pedi a Ele que atendesse o pedido daquela pequenina que estava sentadinha ali ao meu lado. Eu ja não acreditava mais nele. Mas torcia para que aquela pobre criança não fosse decepcionada como eu fui. Então antes de dizer amém, fui surpreendido com um abraço eufórico daquela garotinha. Ela me abraçava, chorava e agradecia a Deus a todo momento. Eu estava surpreso. Aquele abraço era muito forte. Ela pulava de alegria em meus braços. Até que as palavras dela começaram a me surpreender mais que aquele abraço eufórico.

-Deus! Obrigado! Me devolveu meu pai! Me deixou ver ele hoje!

Eu não estava entendendo nada. Apenas sorria. Em algum momento comecei a chorar, mas não lembro qual foi. Como eu iria explicar para aquela garotinha que eu não era seu pai?!

-Calma gatinha! Eu não sou seu papai. Cadê sua mamãe?!
-É meu papai sim! Mamãe disse que o senhor estava com Papai do céu. Ai eu pedi a Ele pra me deixar passar só um diasinho contigo. Ai eu sonhei com Ele e ele disse pra eu vir aqui na praia hoje porque o senhor estaria aqui pra me ver. Ele deixou senhor vir aqui me ver!

Então naquele momento eu pude escutar uma voz de longe que gritava intensamente de uma forma desesperada o nome da Sophia.

-Gatinha, sua mamãe esta chamando. Ela esta preocupada com você! Você não pode sair assim e deixar todo mundo preocupado menina...

Então ela me mostrou uma foto que segurava. Era a sua mamãe e eu... Era o grande amor da minha vida. Voltei outra vez oito anos no tempo e me lembrei de cada momento com ela. Então chorei. Sophia estava no meu colo naquele momento e eu estava me preparando para ir ao encontro de sua mamãe. - Ela não poderia ser minha filha. - Pensei eu. Então quando olhei pude notar ela vir correndo pela praia. Oito anos fizeram com que eu mudasse bastante. Estava com alguns fios de cabelo brancos e usava óculos apesar de ainda não ter chegado aos trinta anos. Não pude relaxar com minha saúde e aparência, pois meu trabalho exigia que eu estivesse bem apresentável sempre. Eu mudei muito, mas ela ainda continuava a mesma. Aqueles mesmos olhos e cabelos. Usava um shorts jeans como de costume e estava descalça. Vestia também uma blusa branca e um casaco verde. Achei que conhecia aquele casaco. Aquele mesmo cordão com um pingente de pimenta e um olho grego ainda estavam em seu pescoço. Sua beleza continuava a mesma. Então ela se aproximou ofegante e só conseguia olhar para Sophia. Entreguei a menina a ela antes que ela pudesse me notar. Ela abraçou Sophia bem forte e em seguida deu-lhe uma bela bronca. Então olhou pra mim. No momento em que seus olhos notaram meu rosto, ela simplesmente ficou paralisada. Então Sophia, em seu colo, olhou pra mim e sorriu.

-Ta vendo mãe! Eu encontrei meu pai!

Eu apenas olhei e sorri. Ela estava completamente desconcertada com o que Sophia disse. Não sei o que a espantava mais. Se era ter me visto ou ouvir o que Sophia disse.

-Quanto tempo não é?! (Disse eu.) Você tem uma filha maravilhosa e muito esperta. Eu sempre soube que você seria uma ótima mãe. (Eu estava completamente sem jeito.)
-Sim... Ela é. Bem esperta. (Ela chorava naquele momento. Talvez por causa da preocupação com Sophia.)
-E ai, como anda a vida?!
-Esta bem. E a sua?! Como esta a esposa?!
-Bom... (Eu fiquei triste naquele momento. Mas tive que mais uma vez falar sobre isso.) Ela faleceu faz três anos. Ela e nosso filho. Ele estava gravida quando sofreu o acidente.
-Poxa, que chato... Meus sentimentos.
-Relaxa. Mas e você?! Casou né. Teve uma filha linda! (Eu sorri pra Sophia naquele momento.)
-Na verdade não casei. (Disse ela passando a mão pelo cabelo para disfarçar.)
-Caramba. E o pai dela?!
-Ele tinha morrido...
-Como assim?!
-Nós temos que conversar...

Meus olhos se encheram de lágrimas naquele momento. Sophia era mesmo a minha filha. Sua mãe havia guardado segredo esse tempo todo. Ela soube que ia me casar com outra mulher quando ia me contar sobre Sophia. Então preferiu esconder Sophia de mim todo esse tempo. Mudou-se para outro estado e havia voltado pra cá por causa de sua família. Muita história ainda rolou depois daquele dia. Mas eu acabei me casando com ela. Sophia era uma menina maravilhosa e estava firme na igreja. Era bem religiosa. Acabei retornando a Igreja por sua causa. Me reconciliei com Deus. O dia em que isso aconteceu jamais sairá de minha memória. Pensei em perguntar uma coisa a Sophia. Sentei-me em sua cama, antes que ela dormisse. Então após ela fazer sua oração, eu conversei com ela.

-Boa noite papai!
-Boa noite filha... Sophia, posso lhe fazer uma pergunta?
-Diga pai.
-Naquele dia la na praia, o que você pediu a Deus?!

Ela sorriu. Me olhou. Segurou minha mão, respirou fundo e respondeu.

-Ja aconteceu pai. Pra que quer saber?!
-Só curiosidade...
-Pedi pra Ele deixar você ficar. Pra Ele não levar você de volta. Pra me dar mais que um dia contigo, se você chegasse ali. Você chegou e ficou. Deus é bom né?!

Assim Sophia me trouxe de volta pra Deus. Ele me deu a felicidade. Apesar de tudo o que aconteceu, eu sei que foi necessário acontecer. Eu e minha casa servimos a Deus. Somos uma família feliz! E Sophia além de ser uma ótima filha, também é uma ótima irmã para Pedro. Final feliz?! Hah' Não! Hoje eu vivo a parte do "Felizes para sempre! " :D

Por Pierre Martins

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