
Entrei pelo hospital desesperada, não sabia se eu deveria ir até lá, mas algo era mais forte que eu... A enfermeira me olhou e pareceu me reconhecer...
-Sua mãe te esperava... Ela me mostrou uma foto sua... Está no quarto 405 no corredor à direita – disse apontando para o local.
-Obrigada – falei rapidamente e corri até a porta do quarto, 4-0-5 eu li, não sabia se deveria entrar, ao abrir aquela porta uma senhora de cabelos brancos e pele clara enrugada estava deitada e lia um pequeno livro de capa dura roxa, talvez não a tivesse reconhecido, mas quando me olhou foi como voltar à infância, seu olhar doce e sereno de tom azul com um toque de verde faiscaram a me ver.
-Eu te esperei por tanto tempo... Vinte e cinco anos... – mesmo com a voz tristonha, ela sorria.
Andei pelo quarto sem dizer uma só palavra, a abracei forte e dei inúmeros beijos em seu rosto – Eu sempre soube que voltaria....
-Eu sei mamãe – lágrimas escorriam em nossos rostos, mas dessa vez elas eram de felicidade.
-Na minha vida inteira sempre tive dificuldades... Sei que a senhora não sabe o que aconteceu... – sentei na poltrona que havia no quarto, que estava perto de sua cama, segurei sua mão - Não tive exemplos de bons pais e por causa disso tive que tomar decisões difíceis... Lembro de quando estava dormindo, você não estava em casa, dizia sair para espairecer, mas eu sempre soube para que saia, eu segui o tal exemplo durante um tempo – respirei fundo antes de começar a falar - Hugo chegou bêbado em casa, arrancou o edredom que me cobria e passou a mão sobre minhas pernas, sinto ânsia de vomito só de lembrar o que ele tentou fazer, lembro de seu toque, de cada coisa que falou – sorri – Peguei a arma que ele tinha que estava na cabeceira perto de minha cama... Não teve como eu não atirar, não me arrependo de ter atirado... Desculpe, mas é a verdade... Ele não morreu naquele dia como sabe, atirei em sua perna, sai correndo enquanto ele gritava de dor e me xingava... Não sabia para onde ir, estava assustada... Corri o mais rápido possível... – cada lembrança era como um punhal no meu peito - Não tive escolha, não tinha amigas e nem familiares... Encontrei uma senhora que me ofereceu casa e comida se eu trabalhasse para ela... Não tive escolha mãe... – eu soluçava e tentava falar ao mesmo tempo - Nas primeiras vezes doeu um pouco, mas depois me acostumei, fui juntando o máximo de dinheiro possível, por isso que hoje estou aqui... Pelo menos nunca me forçaram a fazer sem proteção, isso era a única coisa que eu exigia, e sempre tive nojo de meus clientes... – havia um nó em minha garganta - Eu senti sua falta... Eu pensava em você, em voltar... Eu senti a sua falta, mas do que de qualquer pessoa... Quando soube que Hugo morreu...
-Seu pai... – disse rebatendo e limpando as lágrimas do seu rosto.
-Tanto faz... Quando soube que ele morreu eu quis voltar, mas quando fui te procurar você não estava em casa e não teve como saber onde estava... Só depois que me contaram que se casou que fiquei menos preocupada, mas fiquei feliz quando soube que ele era bom contigo e tinha uma boa condição...
-Ele foi um milagre em minha vida... Assim como Marcos é na sua...
-Eu sei mãe... Me desculpe por ter feito tudo isso...

-Filha eu sei de tudo... E não fiz nada... Eu... Eu te amo – ela me abraçou forte e ficamos assim por um bom tempo, após um tempo ela saiu do hospital e fomos morar juntas, foi a melhor decisão e hoje é a melhor fase da minha vida.
Eu aprendi que a vida é feita de decisões e decepções, ganhei grandes lições com tudo que passei, por mais horrível que seja eu superei e hoje estou aqui como nunca estive, estou feliz e realizada com minha família... Acho que a vida é assim... Mas se não for... Um dia eu aprendo!
Por: Mariane Alfradique

Decepções fazem parte e ajudam muito no crescimento. seguindo seu blog , se puder retribuir iria adorar .
ResponderExcluirhttp://fleonandthecity.blogspot.com/
Concordo com o Felipe.
ResponderExcluir