Pular para o conteúdo principal

- Decepções.








Eu estava mais uma vez naquela praia em Búzios, tudo estava exatamente como no dia em que ficamos ali juntos pela ultima vez, o sol forte, céu azul límpido e sem nuvens, a brisa do mar batia em meu rosto e meus cabelos voavam um pouco, minha prancha estava ao meu lado, como de costume continuava a ir lá todos os finais de semana. O interessante era em que eu pensava naquele momento: "Quero desparecer... Deixar um pouco essas pessoas idiotas e babacas cheias de falsidade de lado...", surfar... Deve ser a única coisa boa a fazer agora, lembrei de meu pai já que ele fez questão de levar-me a Saquarema praticamente todos os fins de semana. Resolvi fazer o mesmo e parar de pensar nele um pouco, já que faço isso há bastante tempo e não nos vemos há quase dois longos anos, isso estava me incomodando com mais frequência do que antes e agora só pensava no que falaria se o visse, eu o esperava ali sempre, nos mesmo lugar que ele disse que um dia estaríamos juntos novamente, mas acho que isso não seria possível, só me restava recordar o passado e seguir em frente.
-Estou ficando louca... - disse sacudindo a cabeça - Tenho que ir surfar ou vou enlouquecer.
Ao longe avistei um cara com uma prancha ele vinha em minha direção e parecia sorrir, seu cabelo era loiro e curto e seus olhos pareciam ser claros.
-Posso sentar aqui? - disse ele com um grade sorriso branco ao chegar bem perto - Se não se importar é claro...
-Não... Tudo bem...
-Não está com ninguém? - parecia que estava mandando indiretas, mas preferi não me alterar.
-Bom... Eu esperava que alguém viesse... Eu espero isso todo final de semana... Há dois anos. - meus olhos tristonhos eram fixos ao chão.
-Nossa... Deve ser frustrante uma menina como você levar um fora da mesma pessoa todo fim de semana a dois anos.
-Uma menina como eu? - gargalhei.
-É bonita, surfista e com um lindo sorriso.
-Bom... Vou lá surfar então... –  disse já com as bochechas corando.
-Posso ir contigo?
-Na verdade... - disse sem jeito - Eu queria ficar sozinha... Se não se importar.
-Então te espero aqui.
-É... Não vai rolar.
De relance vi alguém vindo ao meu lado, provavelmente outro surfista irritante.
-Licença... Ela está comigo.
Ao ouvir sua voz rouca... Essa voz... A voz que sempre disse ser indescritível estava no mesmo lugar que eu. Senti um frio em minha barriga que já não me lembrava, mas que existia, voltou e com força tão forte que sentia que meu coração que agora está acelerado ao extremo saltaria por minha boca.
-E... Tudo bem. Já vi que seu amor esperado resolveu aparecer logo hoje. – ele saiu resmungando alguns palavrões e eu apenas sorri.
Seus olhos brilhavam e pareciam me analisar com cuidado... Ele estava bem mais bonito do que a ultima vez em que nos vimos, parecia um pouco mais serio talvez... Meu sorriso ia de orelha a orelha, minha felicidade transbordava, mas eu estava precisando daquilo, daquela sensação de amar alguém, mas essa sensação já existia, mas estava calada, jogada as traças em um poço de emoções esquecidas.
-Oi...
-Oi...
Nós dois estávamos com vergonha, não nos ver foi a pior coisa que fizemos depois de terminarmos. O silencio pairou durante quase dez minutos enquanto nós olhávamos o mar, as vezes dávamos uma espiada de rabo de olho, só para ver se tudo aquilo realmente estava acontecendo. Me levantei rapidamente e ele fez o mesmo.
-Cara... – não aguentei e o abracei, bem forte, um abraço diferente, aqueles de quando você não vê uma pessoa a muito tempo e por amá-la e sentir falta é o que você faz.
-Calma minha pequena... Nós temos muito tempo.
-Mas você sempre vai embora cedo...
-Não dessa vez. Eu estou com saudades e temos que conversar.
-Bom... O que você quer conversar?
-Eu preciso te contar uma coisa... E não sei bem como... Não sei se você vai me entender Sthella.
-Eu posso tentar se você começar a falar... Vamos... Fale logo.
-É...Certo eu preciso te contar... Você lembra que quando terminamos eu parei de falar contigo?  - eu apenas assenti – Então... Eu não conseguia mais olhar na sua cara.
-O que eu fiz? – o desespero veio a tona, não me recordava de ter feito nada de errado na época.
-Não... Não foi você... Foi eu... Eu fiquei com a sua melhor amiga e não podia deixar que vocês parassem de se falar por minha causa.
Eu não estava acreditando no que estava ouvindo... Ela só pode ser maluca. Eu apoiei em todos os momentos, e ela simplesmente resolve ferrar com a minha vida. Resolve do nada que eu não mereço ser feliz e ter uma melhor amiga verdadeira, um namorado fiel ou qualquer coisa do tipo. Eu amava e amo o Pedro, e mesmo assim não me entreguei a ele como uma vaca. Se ela acha que eu vou falar que não é nada tão grave, que eu vou passar a mão sobre sua cabeça e ouvir ela chorar o necessário, que apesar do que fez tudo tem perdão que eu a babaca e ingênua da Sthella vou deixar de lado? Ela vai se enganar demais, nunca mais quero vê-la na minha frente. Eu pensei que ela valia a pena, defendia quando os meninos a chamavam de piranha e cachorra e é assim que me retribui?! Pois bem...
Foi automático, quando dei por mim minha mão já havia encontrado brutalmente sua bochecha direita, não demorou muito para ficar vermelho.
-Eu mereci.
-Ainda bem que você sabe.
-Sthella?
-Que foi Pedro? Foi para isso que você veio? – meus olhos já estavam vermelhos e húmidos, havia algumas lágrimas percorrendo minhas bochechas, de algum modo elas queimavam minha pele.
-Não... Foi para te perdi perdão... Eu sei que errei e errei muito feio, mas se eu não viesse até aqui não te veria... Não chore, por favor... – ele repousou sua mão sobre meu queixo erguendo-o para olhar em seus olhos e limpou minhas lágrimas.
-Como você quer que eu não chore sabendo disso? Eu fui traída das duas piores formas...
-Mas foi depois que terminamos...
-Pelo menos vocês tiveram algum senso...
-Eu sei que errei... Desculpe... – os olhos dele também estavam vermelhos, ele disfarçou e os limpou antes que as lágrimas escorressem.
-Tudo bem... Já conversamos. Agora você pode ir.
-Mas Sthella...
-Vai embora Pedro... Me deixe sozinha...
-Tudo bem, qualquer coisa é só me ligar.
-Não vou te ligar.
Assim que ele se foi desabei na areia, o choro era incontrolável e não consegui me mover por alguns instantes... Minha melhor amiga...
Os dias começaram a se passar cada vez mais lentamente, as aulas na faculdade já não eram tão interessantes assim, Pedro vivia me ligando, algo me dizia que ele tinha mudado e que me ama, mas nunca fui de acreditar em intuição e sim nas ações, nunca mais falei com Marcele, ela vinha me procurando e eu sempre a ignorava ou apenas saia de perto antes que ela se dirigisse a mim. Era mais um dia comum de fim de semana trancada em casa, cerca de seis meses se arrastaram desde o acontecimento com Pedro, eu estava um pouco melhor, meus amigos estavam me apoiando a seguir em frente e principalmente tinha o apoio de meus pais, por um instante a campainha tocou.
-Sai daqui... – ouvi meu pai gritar.
-Eu preciso falar com ela senhor. – uma voz conhecida... A minha voz.
Desci rapidamente a escada e me dei de cara com ele, com flores em suas mãos.
-Pai... Deixa. Eu vou lá fora falar com ele.
-Tudo bem, mas saiba o que você vai decidir.
-Obrigada – dei um breve beijo em suas bochechas e sai com Pedro.
-Não quero arranjar problema. – caminhávamos lado a lado até a praça.
-Não foi hoje que você arranjou um problema.
-Sthella... Por favor – ele se virou e ficamos frente a frente – Eu preciso de você, é tão difícil assim me perdoar?
-Eu já te perdoei... Há seis meses depois que você foi embora eu fiquei mais um tempo lá... Não vale a pena levar magoa de ninguém.
-Eu sei... Mas eu errei e tudo bem se você levar magoa de mim...
-Não vou levar.
-Tome – ele me entregou um buque que havia flores de diversos tipos – São para você... Espero que goste.
-Você sabe que gosto... Obrigada.
-E agora? O que vamos fazer? – disse ele se aproximando, apenas me esquivei.
-Posso falar? – ele concordou – Olha Pedro eu sinceramente te amo e se fosse outra pessoa não daria outra chance, mas eu te amo e viver sem você está me machucando demais, eu preciso de você. – ele se aproximou novamente, segurou meu queixo com sua mão e puxou-me até ele.
Nossos lábios se tocaram e foi maravilhoso ter aquela sensação novamente, desde então ele jamais me decepcionou de novo, seguimos em frente, juntos e estamos assim a cerca de seis anos e acho que a maior prova disso está dormindo ao quarto ao lado... Marina.


Comentários

Postar um comentário

Obrigado por comentar!

Postagens mais visitadas deste blog

Nosso amor. A nossa aliança.

Eu te amo como nunca amei alguém. Eu a beijei de surpresa. O fiz com a maior intensidade que podia fazer. Então ela me chama de bobo entre sorrisos. Então logo ficamos de pé e eu segurei suas mãos. Ela estava quase arrumada. Blusa preta e calça jeans, mas ainda estava descalça. Seus olhos estavam fixos nos meus quando comecei a falar... -Será que você tem noção do quanto eu te amo? -Eu amo muito você minha vida! – Ela sorria ao dizer isso. -Você me faz muito feliz! Esse primeiro ano que passamos juntos foi incrível e eu espero viver muitos como esse ainda com você. -Teremos muitos melhores que esse! -Amor, cadê aquele anelzinho que te dei há um ano na praia lá em Saquarema quando nos beijamos pela primeira vez? -Está aqui amor. – Ela foi até uma caixinha em formato de coração, mas não achou. – Pera ai, acho que esta na outra. – Procurou em uma embalagem de Ferrero Roche , mas também não encontrou. – Eu a pus aqui em algum lugar. – Então voltou a procurar na caixinha em fo

Uma noite inesquecível.

Tanto faz o que var rolar... A noite havia chegado. Algo me dizia que aquele show seria inesquecível de alguma forma. O chuvisco persistente molhava meu rosto. De alguma forma isso me fez lembrar de lágrimas... Isso acabou me fazendo levar até ele. Ergui minha cabeça e olhei pro céu. Não haviam estrelas. Era uma noite rústica e aparentemente triste. O show havia começado. Eu fechava meus olhos e cantava com todas as minhas forças. Sempre gostei das músicas da banda Rosa de Saron. Hoje estava assistindo eles pela primeira vez. Queria esquecer de tudo. Esquecer do mundo e esquecer dele. Ja havia se passado algum tempo. Então quando abri meus olhos e olhei pro lado meu coração disparou. Quase saltou pela boca. Ele estava ali ao meu lado. Esfreguei meus olhos quase que não acreditando naquilo. Então fui até ele instintivamente e o abracei.  Seus braços, seus abraços... -Ei moço! Não fala mais com as amigas?! - Disse eu olhando em seus olhos. -Nossa! Você aqui! Que coincidência. Não

- Volta por cima.

A vida é simples, fácil... A morte é rápida e sem o menor sentido...  -Desculpe - disse ele com seu olhar sereno. -Pelo que? – eu estava confusa. -Por eu não poder mudar tudo isso... – seus olhos cor de mel estavam vermelhos e olheiras eram facilmente notadas. -Não se preocupe amor... Tudo vai ficar bem – minha voz estava falhando e eu não consiga mais apoia-lo a superar a minha possível perda, estendi o braço e encostei em uma de suas bochechas, uma lágrima dele molhou o meu dedo e eu a sequei – Não chore minha vida... Vai passar... Acredite... -Mas amor – seu tom era desesperador – O médico disse que você vai precisar de uma doação... Você tem doença pulmonar crônica por fibrose... -Eu sei amor... Mas você vai ver eu vou melhorar. -Você melhor do que ninguém sabe que não tem cura... – ele sentou em minha cama de hospital e ali me abraçou com todo cuidado, choramos juntos até não sair mais nenhuma lágrima miserável se quer – Eu não posso te perder Fátima... Eu te amo e não vou c