
Hoje já faz dez anos exatos,
talvez seja mera angústia em sentir o verdadeiro amor novamente, talvez eu
apenas queira ter contato novamente com os vivos, morto já basta eu... Não
entendo o que é esse papel de ator... Um ator bem charlatão, daqueles que não
sabe nem o que ainda está fazendo aqui, meio vivo, meio morto, um completo
estupido... A areia toca meus pés como agulhas, não as sinto há tanto tempo,
desde que ela se foi, na verdade eu a abandonei, idiotice eu sei, mas não fazia
bem a ela... O mar está violento, não tanto quanto eu naquela noite que dei uma
tapa em Nathanna, ela me irritou, dizendo que eu a havia traído, coisa que eu
jamais faria, eu sempre a amei, desde aquele dia, eu fui embora e jamais
voltei... Sinto a maresia grossa em meu rosto, mal da para ver o horizonte, mas
não faz diferença, nunca fui bom em chegar perto das coisas que estão distantes
mesmo... Sento-me na areia, meus dedos deslizam levemente sobre ela.
-Deus?! – meus olhos estão
cheios de lágrimas – Sei que nunca fui bom com as palavras... Faz dez anos que
não conversamos, é duro viver sozinho... Sem esperanças, o Senhor nunca me deu
uma prova de sua existência, e acho que nunca vai dar – lágrimas queimam minha
face – Só quero pedir desculpas, apenas isso – eu já não entendia o que dizia –
Minha mente pede uma coisa e eu faço outra, não há escolha mais para mim... Não
é necessário tê-la novamente, na verdade acho que você deve rir de mim... Desse
babaca sozinho há dez anos, que não come uma mulher por medo de magoá-las de
novo... – começo a sorrir – Sou um idiota mesmo né?! Porque você me ouviria? Um
cara que não acredita em seu “poder infinito”, eu não perderia... Tenho que
parar de falar sozinho... – levantei-me lentamente, peguei um cigarro que havia
em meu bolso e meu isqueiro, um, dois, três cigarros ou mais, apenas fechava
meus olhos para sentir o vento em meu rosto e respirava fundo enchendo meu
pulmão de maresia até doer.
Uma criança de cabelos
loiros corria ao longe e se aproximava, talvez com medo de mim, mais uma vida
ingênua de pureza que logo vai se acabar... Ela sorria e percorria um caminho
reto, parou na minha frente com seus grandes olhos cor de mel, sorrio com sua
boca rosada, mostrando suas amplas bochechas.

-Sim?!
-Está bem?
-Sim, estou sim...
Ela parecia envergonhada.
-Minha mãe queria te ver...
-E onde ela está?
-Em casa... Ou me procurando talvez.
-Vamos, vou te levar em casa.
-É por aqui...
Com suas mãos gordinhas segurou meu cigarro e jogou-o sobre a areia, agarrou minha mão e foi me levando até sua casa, sem dizer uma única palavra.
-Chegamos – seu sorriso irradiava e seus olhos brilhavam.
-Então, posso ir embora?
-Não. – a menininha entrou porta a dentro, dava para ouvir sua mãe brigando com ela, talvez eu conhecesse aquela voz, impossível.
-Posso ajudar o senhor? – Nathanna olhava para o chão, mesmo com dez anos sem nos vermos seria dificílimo esquecer aquele cabelo ruivo e sardas nas bochechas – Você? O... O que faz aqui Diogo? – sua voz demonstrava surpresa e carinho.
-Ela me trouxe aqui... Disse que queria falar comigo.
-Eu não mandei ela ir falar contigo, nem sei onde você estava, faz dez anos que me deixou, como eu saberia? Eu posso te ajudar? Um café, sei lá.
-Eu só queria uma coisa e não pode mais me dar – dei as costas e fui caminhando lentamente.
-Diego – ela gritava – Vai embora de novo? Vai me deixar de novo? – cheguei mais perto, abracei-a, lágrimas escorriam de ambas as partes – Não posso te perder de novo... Por favor... Não... Não vai.

-Sabe o que eu preciso de verdade?! Sentir o amor verdadeiro de novo, me sentir vivo... Porque eu ainda tenho muita vida correndo por minhas veias e está indo pro lixo... Eu não quero morrer... E também não estou afim de viver... Antes eu tinha você... Me apaixonei... E te deixei... Tenho medo... Antes de chegar, eu podia te ver aqui, na minha frente, mas não sabia que Ele era tão poderoso assim... Estou me sentindo vivo de novo, mas sei que isso não vai durar muito tempo... Tenho uma vida pela frente e não vou desistir... Preciso de você de novo, do seu amor... E uma vida de verdade... Tenho um buraco na minha alma... Você pode vê-lo no meu rosto... É algo enormemente horrível e eu não posso te tirar da sua família Nathanna, não entende... Você deve ser bem casada e tem uma filha linda - meus olhos eram fixos aos dela, estávamos próximos demais.
-Que filha? Qual marido?
-Ela... A menina... – estava confuso.
-Minha sobrinha? Essa é a casa da minha irmã... Faz três anos que eu não nos víamos... E algo me chamou aqui hoje... Melissa sumiu e estávamos preocupada, ela só deixou um bilhete dizendo que encontraria o homem que Deus esperava para conversar há dez anos... Não entendia, mas... agora, tudo faz sentido... Sei que é ateu, mas é o que eu penso, e não faz diferença se não crer Nele... Eu só...
Nos beijamos, talvez eu
esperasse por aqui há dez anos, talvez por tempo demais, mas sei que a partir
daquele dia eu passei acreditar Nele e no que Ele pode fazer por amor... O amor
verdadeiro.
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A felicidade sempre chega... Pode demorar... Parecer que se esqueceu de você. Mas acredite ela sempre foi sua e um dia volta !! |
Por: Mariane Alfradique
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