O frio sempre o atormentava. Isso o fazia lembrar-se dos dias incríveis que vivera ao lado dela e que agora não passam de uma anestesia para sua imensa dor.
O tempo o fazia compreender que nada é eterno. Sejam bons ou ruins, todos os momentos irão passar. Quisera ele que os bons momentos durassem um pouco mais.
Ele caminhava pela orla da praia, sentindo todo aquele clima gelado que o inverno trazia. Aliás, ele se perguntava o quanto tempo não havia um inverno tão frio como aquele. Além da brisa gelada, também podia sentir aquela poeira de chuva fina que descia esporadicamente por todo aquele dia.
Sentou-se em um banco que ficava disposto sobre um píer afastado e olhou o horizonte cinza. Ali, refletiu mais uma vez sobre tudo e, se martirizou mais uma vez com a dor de ter perdido a única pessoa que lhe fez sentir que o mundo valia apena.
Antes que pudesse permitir que as lágrimas escorressem de seus olhos, percebeu que alguém se aproximava, com passos lentos, que demonstravam que ela estava com receio por estar ali.
- Não esperava te ver tão cedo. – disse ele quebrando o silêncio.
- Eu também não achei que conseguiria estar aqui. – argumentou ela. – Mas eu preciso me explicar.
- Não há o que explicar. Por sua causa eu perdi o amor da minha vida. – disse ele sem olhar para trás.
- Eu errei porque estava lutando pelo meu amor. – argumentou ela.
- Seu amor? – esbravejou ele e em seguida deu um riso irônico. – Você sabe muito bem que eu não amo você.
- Mas amava! – retrucou ela.
- Olha, eu já cansei de dizer que a nossa história passou. – suspirou. – Eu lhe dei inúmeras chances e você jogou fora. A vida seguiu. Eu encontrei uma pessoa que me valorizava...
- Para, por favor! – interrompeu ela com a voz trêmula, passou uma mecha do cabelo para trás e prosseguiu após respirar fundo. – Não me julgue mais pelo passado. Eu preciso enfrentá-lo todos os dias e você sabe disso.
- Então por que está aqui? – disse ele franzindo o cenho, enquanto olhava para trás com aspecto de raiva. – você deveria estar longe de mim! Você é tóxica! Você me faz mal!
- Tudo bem, você tem razão. – disse ela com olhar de súplica. – Eu sei que não mereço, mas estou aqui pedindo apenas uma chance de mostrar que eu mudei, que eu te amo. Eu estou disposta a tudo para te fazer feliz.
- Você mudou? – riu ironicamente. – Você forjou aquela cena para me afastar da mulher que eu amo. Você inventou coisas terríveis a meu respeito. Hoje ela me vê como um monstro...
- Fiz tudo isso porque te amo! – disse ela interrompendo-o.
- Não! – Esbravejou ele. – Você não ama. Você ama apenas a si própria. Você pensa apenas em você mesma. Não se importa com os outros.
- Por favor, não faz isso comigo... – suplicou ela com lágrimas nos olhos.
- Olha, - hesitou e prosseguiu. – se você realmente sente algo por mim, então por favor me respeite e me deixe em paz. Suma da minha vida!
Ele saiu e deixou ela para trás. Seu coração estava sangrando, pois a culpa de tudo isso era dela. Foi ela quem inventou tudo. Foi ela quem o fez perder a sua grande história de amor. Ele sabia que jamais recuperaria o que ela lhe tirou. Mas ele entendeu finalmente que ela jamais poderia estar próxima de sua vida. Não haverá uma luz no fim do túnel enquanto ele permitir que ela atrapalhe sua visão.
Ele não pode recuperar sua amada, mas deve se livrar da presença de quem lhe tirou tudo o que ele amava.
Martins, Pierre – Iguaba grande, 19 de novembro de 2019.
Comentários
Postar um comentário
Obrigado por comentar!